Friday, December 4, 2009

Badalada

quando em angustia
de punho cerrado
acerto em cheio meu peito
ele poderia soar

como um sino
cuja sina está em responder
a cada um dos golpes
com o som de seu oco

Monday, November 30, 2009

Com algum atraso

Na tela desses dias
sou heroina romantica
estirada sobre a cama
sofrendo dos pulmões
em século inadequado

Wednesday, November 11, 2009

Crônica elétrica


Acho que vou dar uma festa no meu aniversário, eu disse. “Não sei se vou estar aqui”, respondeu a Kelly que divide apartamento comigo.

Sabe aqueles prédios que parecem desabitados, manchados pelo tempo e água e que você não acredita que pessoas possam morar neles. Eu olhando a janela, pensando nos trabalhos que tenho que entregar, na dissertação que a Kelly escrevia, sou uma moradora de um desses prédios que parecem estar em pé só por hoje.

Foi quando puf. Escuridão. Minha janela era tão escura quanto as dos prédios mais dignos a minha volta e sem demora fomos pedir uma vela no apartamento vizinho. Eram apenas duas, velas e moradoras, que lá estavam. Do outro apartamento sai o Fabio com o violão e sem velas também. Três apartamentos, duas velas, cinco pessoas e um violão. Ficamos no hall.

Assim falamos da minha festa, da vida acadêmica, das noticias que chagavam pelos celulares, de serial killers e de pessoas, bem e mal.

Até que veio o sono antes da energia e a luz antes do sono acabar. Acordei no meio da noite incomodada com a claridade e me levantei pra apagar a luz da sala.

Wednesday, November 4, 2009

A vida em 24 quadros: Teto

Ao virar uma esquina, já sumiu o quarteirão e em seu lugar uma caixa cinza de empilhar gente no mesmo numero e roubar do paulistano mais um pedaço do céu.

Friday, October 16, 2009

Friday, September 25, 2009

F(r)ase masoquista

De que adianta te afastar durante o dia se quando adormeço meu sonho te busca.

E te coloca encostada em meu peito, cheirando a protetor solar.

Logo assim, com esse cheiro que eu odeio.

Monday, September 21, 2009

Uma cantora sem publico
uma atriz sem palco
uma editora sem ilha
deserta

Wednesday, September 16, 2009

Entrepontos

Lado a lado ela oscilava enquanto dormia e o cheiro de cerveja denunciava o motivo. Quis ter estado naquela mesa só pra ver a cor de seus olhos abertos, alguém neste onibus aproveitara aquele fim de quarta-feira. Dei o sinal e desci conhecendo da moça apenas o desalinho, o cheiro e o peso de sua cabeça em meu ombro direito.
disse
apenas porque
perdi a esperança
que meu silencio
ainda fosse mensagem

Wednesday, September 9, 2009

A quem interessar possa

Se alguém quer matar-me de amor
que me deite na grama de algum parque num sabado a tarde
coloque nos meus ouvidos um samba pequeno de violão, cuíca e voz
e deite a cabeça sobre minha barriga

ninguém morre de samba só porque prefere
se a cuica não lhe estremece o coração
vá se dedicar a outros prazeres

Monday, September 7, 2009

A vida em 24 quadros: figurino

O salto de seu Prada não deixava a moça pisar no acelerador. Tirou do pé o sapato e colocou sobre o painel. Bateu o carro.
Vitima da moda com o salto enfiado entre os olhos.

Sunday, September 6, 2009

Suicida

Finou-se
e fim deu-se


Friday, September 4, 2009

Janela aberta

pensamentos de onibus
cinéticos como a paisagem

e tão efêmeros quanto o passageiro

Wednesday, September 2, 2009

Desconhecido

Tenho um amigo que chega calado
e quando se vai
arrebentaria o portão em angustia

Sempre o vejo descer as escadas
e ficando menor
até atravessar
a porta
que abro
para
sua visita
e sua fuga

Friday, August 21, 2009

Frase de outro

Quando te leio uma explosão no meu peito me diz que com teu eu lirico até casaria. Mas você... eu bem que mandaria à merda.

(para o poeta que esvazia meu peito até dos bons sentimentos)

A testemunha

O relogio tic, a chuva tac e o tempo passa.
O relogio tac, a chuva passa e o tempo abre.
O relogio tic e a chuva volta depois de um mês.
Mais um ano tac, estiada trec e o coração tum tum, apaixonado.

A relação tic, mais uma criança tac e a pele esticada.
O relogio quebra, o neto concerta e a pele cede.

Então o relogio tic e o tempo tac, num instante tic pro silencio final.


Exceto, é claro, pelo:


tic
tac
tic
tac



da sala de visitas.

Monday, August 17, 2009

Vazio

eramos apenas
uma rua deserta
e a manhã inexorável


Wednesday, August 12, 2009

Fragil III: o ultimo

Eis que a meio passo
no suspiro
o sopro chega

cai o primata ereto
trinca-se o desejo
quebra-se a perna


mais uma vez



Saturday, August 8, 2009

E se gente fosse maquina

Queria descobrir o pedal que te acelera
pra conseguir tirar o pé do freio
e nos deixar bater, Berenice
sem nada segurar

Nota do Tradutor

Esse sorriso pode significar isso e aquilo.
Não necessariamente nessa ordem.

Friday, August 7, 2009

Alumbramento

Estiradas, alvas. A faixa de pedestre da paulista foi meu primeiro amor paulistano. Quando longe é passarela de multidão, entre os que vão e vem, nenhum vão. Quando perto é enorme pedaço de asfalto listrado.

Wednesday, July 29, 2009

Fragil II

desejo delgado
suspenso por suspiro
se resfolego






cai
e
que
bra

Saturday, July 11, 2009

Fragil

a meio passo
um pé no chão estável
o primata ereto
é mais suscetível a queda

a meio caminho
meu querer já delineado
no instante entre o ainda
e o consumado

é fragil

cuidado

apenas um sopro seu
pode derrubá-lo



Wednesday, June 17, 2009

O caminho

sem beira não existe ponte
sem ponte a beira é o fim

e passa, sem nunca sair de lá.

Wednesday, June 3, 2009

neste frio de deserto interiorano.
mais uma vez em minhas roupas de fundo de armário.
apertada por mais uns kilos.
percebo a solidão que existe dentro de um pulover de lã.

Sunday, May 10, 2009

Sim, aceito.

Você palavreador
eu palavrorio, catarse
enquanto você lirismo
lapida o que eu só tiro o pó

e nosso matrimonio
ainda será
pagina com pagina
roçando nossos eus liricos
até que as traças nos separem


(para Rômulo)

Thursday, May 7, 2009

Epitáfio

Aqui jaz alguem
que nessa vida nada fez
e só disse, disse, disse...
e como ultimo gesto
quis homenagear Paulo Leminski

Espiralando

Placidamente contorno
em cada volta ao centro: um passo
e pingo no espaço
uma nota blue

Sem entender escorro
se pela queda
ou pelo centro
e vou descendo
em desalento

e por fim
gotejo
blue
blue
blue

Tuesday, April 28, 2009

Em silencio

Vem você falar que está tão triste
que nem quer por o pé na rua

Cá de dentro respondo:

Que pena
Aqui fora fica muito melhor quando você está
Sorrindo

À sombra

Se eu encontrasse uma fruta
que ficasse mais doce a cada mordida
Sob a árvore eu diria:
- Cá está um pé de Larissas

Thursday, April 23, 2009

Garrafa

no cais da grande mentira
o vinho do porto já ensinou
a verdade é relativa
e mais valiosa é a espera

Monday, March 23, 2009

Para São Paulo

roda gira, e gira tranquila
e eu no centro admirando calma
numa panorâmica lenta da vida
então vem o desejo
só quero correr
para a borda
e correr mais
mais depressa
até a beira
vertigem

e paro
no quase

então
começo
o retorno
e desejando de novo
a imagem nitida do centro
transcorrendo initerrupdamente
com cada pedaço fazendo todo sentido
só ai percebo a voragem de voltar a correr

Wednesday, March 18, 2009

A vida em 24 quadros: Climax?

além do texto
do tecido
da textura

quero conhecer a tessitura


do seu sim


e do seu não

Friday, March 6, 2009

A vida em 24 quadros: Trilha sonora

Aos teus pés no cimento batido
Alterno compassadamente
pela moça que chocalha fora de ritmo
e desanda a banda inteira