Friday, November 26, 2010

momento triste

Quando "saudade" ganha a função fática dos cumprimentos.

Friday, October 29, 2010

Convite declinado

uma relação com futuro,
disse,
não é feita desse desfalecimento
por nossas mãos atadas

é preciso de outros nós
que não se darão com esses seus fios

Friday, October 8, 2010

A pomba, a espreita no beiral, não sabe do convite que lhe endereço quando abro essa janela.

Monday, September 27, 2010

diálogo

She says:

escreve uma coisa bonita sobre isso tudo, amor ? Para a gente não esquecer!

I say:

vc já escreveu?

She says:

não


Thursday, September 23, 2010

você ai
inflamando
sob a lua inflada
e eu sob o edificio

in
(contida)

Monday, August 30, 2010

Epitáfio III

A dúvida
enquanto vivi
Só se tornou um ponto
no fim

A morte, matreira, apenas retirou o arco daquela pontução
que encerrava as angustias que me curvavam?

Saturday, August 14, 2010

resposta

inteira estou em ti
como o iceberg
q flutua com parte a mostra
por ser também a mesma coisa

em outro estado

Wednesday, August 4, 2010

Constatação

Hoje vi quase 5 mil pessoas assistindo cair neve no brasil por uma webcam. Não precisei fazer poesia sobre isso. Pois lá já estava ela.

Monday, August 2, 2010

Gotejo

Tivesse eu alguma habilidade para prever

Teria guardado
e agora, essa aridez.
teria rega.


mas sem opção
e sem cantil
gotejo

blue

Thursday, July 22, 2010

Num sobresalto
destampado o peito
derramei-me ao seu redor

Thursday, July 15, 2010

Da Janela

anoitece
a cidade acende.
espalhando pelo chão
o céu

seria belo,

não tivesse ela
apagado ele
ao longo de anos.

Seria horroso,

se não existisse
essa janela.
Delatora.

Sunday, June 20, 2010

A cabeça no travesseiro
e a verdade revelada
aquela ilusão companheira
que segurou-lhe fio da normalidade
deveria ficar ali naquela cidade
junto à menina que já não era mais
e à mulher que um dia pensou que seria

fechou os olhos
para seus ultimos minutos com ela

e abraçada ao travesseiro
sob as cobertas
despediu-se de todas


boa noite, querida. pela última vez.

Saturday, June 12, 2010

Carta de Despedida

Ontem, pousei minha mão direita sobre aquele joelho, que sem repelir nem aceitar, recebeu num toque, aquilo que acumulei nesses três meses de espera.
Na natureza das coisas, joelhos são feitos para dobrar e nos levar, nos fugir, ou nos deixar ficar. Por isso deixarei-os em paz, com sua dificuldade em desviar, e voltarei dobrando os meus ao seu lado, assim que eu puder resumir os seus joelhos a simples articulações intocáveis por minha mão em espera.

Tuesday, June 8, 2010

Sinais

Colocou frente ao peito uma placa:
NÃO SE APROXIME
Em letras miúdas abaixo
eu posso gostar disso demais.

Monday, June 7, 2010

Apnéia

Um dia, na minha infancia, ouvi de um desses programas de ciencias que o cheiro eram moléculas desprendidas das coisas que aspiravamos. Guardei essa informação como uma grande verdade.
Hoje, ao deitar, descobri nas minhas cobertas o cheiro do perfume dela. Aspirei o pano a pleno pulmões e aguentei o folego.
Toda a fantasia foi imaginar algo dela a flutuar em meu peito. Por longos segundos sem ar.

Friday, June 4, 2010

Ficar olhando esse fruto no galho não vai fazer ele cair mais depressa, ralharam. Mas em silencio a menina aguardava. Percebeu, antes, que chacoalhar a arvore só o derrubaria ainda verde e quando ele resolvesse cair maduro queria estar para segurá-lo antes do chão.

Monday, May 24, 2010

Bonsai II

Cresceu demais.



Agora só resta aproveitar a madeira
e fazer cadeira
pra tomar esse chá.

Monday, April 26, 2010

feitio de Samba

O moça
que finge vergonha
e me tira o sossego
só com o olhar

hoje me diz que é holandesa
além de todo o resto
só pra me acanhar

só mesmo samba pra caber
esse N Ã O parcelado
que comigo você
não terminou de saldar

Sunday, April 25, 2010

Tóin

Moça.
cada volta desses cabelos
reflete uma confusão cá dentro.
e quanto mais cresce
mais enrola

por isso volta e meia
raspo até a raíz

e espero o novo cacho

Saturday, April 24, 2010

Esses tempos entendi Machado de Assis. Nada melhor para descrever aqueles olhos de Capitolina em que me afogo em silencio e desvio antes que alguém perceba meu sentimento à deriva.


"Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá idéia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. Para não ser arrastado, agarrei-me às outras partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros, mas tão depressa buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura, ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me."

Friday, April 23, 2010

A minha poesia sempre aspira uma prosa
poderia sair um romance

mas depois de horas
me explicando como é o sentido
enfio-me na garganta
só consigo vomitar
um ponto

.

devo ser muito estreita
...

Tuesday, April 6, 2010

Gemada

Mesmo que a moda peça e as antenas propaguem.
Esse mundo é um ovo.
E nenhuma casca é maior do que há dentro.


Quebre e perceba
esse meu jeito tem procedencia
Souinterioranadagema

Tuesday, March 23, 2010

Bonsai

cultivo cá um amorzinho
que de tão pequeno nem bate, estala.
podo suas raízes à miude
no silencio antes do sono

reconheço que talvez seja cruel impedir assim seu crescimento
mas preferi tê-lo assim pequeno
porém completo

Saturday, March 13, 2010

Tudo se transforma

Engolia a notícia a seco. Sem metáfora. Papel garganta abaixo e depois dois confiantes tapinhas no abdome. Em algumas horas essa história chegaria ao fim merecido.

Friday, March 12, 2010

Zzz

"Como?"

e ela zumbia mais para se fazer entender

"desculpa não entendi..."

zumbindo pausadamente ela repetia. até que o seu intelocutor arriscava algum som semelhante.

"isso, pode ser..." sempre dizia, rindo por dentro da piada que sua mãe lhe pregou a 26 anos atrás.

Friday, February 19, 2010

Despedida

A tua frase reta
viu em minha escrita torta
o diferente
sem perceber
que neste mundo redondo
a curva do meu texto
era a menor distância
entre nossos pontos
de vista

Wednesday, February 3, 2010

Avenida Maria

Para parar de pensar nele mastigava um chiclete e atirava pela janela depois. Na cidade de ruas de terra a frente da casa de Maria se fez uma avenida de duro asfalto rosaacizentado. Ao voltar a cidade de Maria ele ficou desconcertado, chorou por ter fugido enquanto se construía uma avenida. Mas Maria já estava longe, seguiu pela rua até o seu fim.

E sem saber ou sentir o desencontro a cidade caminhava agradecida.

Friday, January 29, 2010

À deriva

Escreveu o poema, colocou numa garrafa e atirou pela janela. O estilhaço cegou a menina que passava. Concluiu, pensativo, enquanto via a confusão, que um apartamento é uma porção de chão cercada de vazio por todos os lados.

Monday, January 18, 2010

Epitáfio II

Calado e Inerte.
Ele não mudou nada.

Wednesday, January 6, 2010

Figura de linguagem

Aquela que nao quer ser denominada poetiza nao sabe reconhecer a beleza de uma metonimia.

(desculpas a todos mas o computador aqui esta sem acentos)